Tribunal de Haia iliba<br>Slobodan Milosevic
O Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPII), em Haia, reconheceu que Slobodan Milosevic, que foi presidente jugoslavo, não teve responsabilidades em crimes de guerra na Bósnia, entre 1992 e 1995. Uma ilibação tardia.
Ex-presidente da Jugoslávia opôs-se a toda a «limpeza étnica»
Ao longo de anos, Slobodan Milosevic foi caluniado de forma continuada pelo sistema mediático hegeOmónico e por dirigentes das potências ocidentais. Os meios de comunicação na época chamaram-lhe «carniceiro dos Balcãs» e compararam-no a Hitler. Foi acusado de «genocida» e de ser «um monstro sedento de sangue», como titulavam então os principais jornais europeus e estado-unidenses.
Com essas mentiras e falsificações, para as quais o Tribunal de Haia contribuiu, tratava-se de justificar não só as sanções económicas à Sérvia mas também os bárbaros bombardeamentos da NATO a esse país, em 1999, assim como a guerra do Kosovo, tudo isso no quadro da campanha de liquidação da Jugoslávia levada a cabo pelos Estados Unidos e seus aliados.
O antigo presidente jugoslavo passou os últimos cinco anos da sua vida na prisão, em Haia, defendendo-se a si e ao seu país das acusações de graves crimes cometidos durante uma guerra que afinal, uma década depois da morte, o próprio TPII reconheceu que Milosevic procurou sempre impedir.
O sítio web Resumen Latinoamericano escreve que a sentença é «extraordinariamente reveladora» mas que a generalidade dos meios de comunicação ocidentais procurou ocultar os seus aspectos mais interessantes.
Em 24 de Março último, o Tribunal de Haia, em 1.ª instância, condenou Radovan Karadzic, antigo líder político dos sérvios bósnios, a 40 anos de prisão, por crimes de guerra. Na sentença, os juízes concluíram, por unanimidade, que Slobodan Milosevic não tinha participado de nenhum «plano criminoso conjunto» para «limpar etnicamente» a Bósnia de muçulmanos e croatas.
O TPII estabeleceu que as comunicações interceptadas entre Milosevic e Karadzic evidenciam que o primeiro qualificou com «um acto ilegítimo em resposta a outro acto ilegítimo» a intenção das autoridades sérvio-bósnias de expulsar os muçulmanos e croatas de território da Bósnia.
Milosevic opôs-se
aos crimes étnicos
Os juízes também encontraram provas irrefutáveis de que Milosevic «havia expressado reservas quanto a uma assembleia sérvio-bósnia poder excluir os muçulmanos da Jugoslávia».
A sentença diz, igualmente, que no decurso de reuniões realizadas com responsáveis sérvios e sérvios-bósnios, Milosevic «havia afirmado que os membros de outras nações e grupos étnicos deviam ser protegidos e que no interesse nacional dos sérvios não deve figurar a discriminação contra outras etnias». Na ocasião, «Milosevic declarou, além disso, que crimes contra grupos étnicos deviam ser combatidos com energia».
Neste processo de Karadzic, contudo, o TPII não fez nada para que se tornasse público que a sentença ilibava Slobodan Milosevic dos crimes de que foi acusado. Sigilosamente, os juízes soterraram sob mais de 2590 páginas a inocência do ex-presidente jugoslavo, sabendo que a maioria das pessoas não iria ler tão profuso veredicto.
Felizmente, o silenciamento não prevaleceu, graças a jornalistas corajosos que leram o documento e divulgaram, através de sítios web progressistas e canais televisivos independentes, o essencial das conclusões dos juízes, ilibando Slobodan Milosevic. Tardiamente, 10 anos depois da sua morte, ocorrida em 2006, na prisão do Tribunal de Haia, por «causas naturais» nunca devidamente esclarecidas.